Que destino ou maldição
manda em nós meu coração?
Um do outro assim perdidos,
somos dois gritos calados,
dois fados desencontrados,
dois amantes desunidos.
Por ti sofro e vou morrendo,
não te encontro, nem te entendo,
a mim o digo sem razão:
coração... quando te cansas
das nossas mortas esperanças,
quando paras coração?
Nesta luta, esta agonia,
canto e choro de alegria,
sou feliz e desgraçada.
Que sina a tua, meu peito,
que nunca estás satisfeito,
que dás tudo... e não tens nada.
Na gelada solidão,
que tu me dás coração,
não é vida, nem é morte:
é lucidez, desatino,
de ler no próprio destino
sem poder mudar-lhe a sorte...
Amália Rodrigues
Post Scriptum: pelos vistos não foi só a Amália que teve esta maldição no seu "fado"!
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