Sempre fui uma privilegiada!

Nunca soube o que é frequentar uma escola do Estado. Andei sempre em escolas particulares. E por essa razão tenho que agradecer aos meus pais o facto de me terem proporcionado a melhor educação possível.

Da primeira à quarta classe frequentei o Externato Nossa Senhora da Apresentação na Agualva (Cacém). O externato tem por entidade a Congregação das Irmãs Servas da Sagrada Família. Tive como professora a Umbelina Santiago, uma professora "old school", ou seja, daquelas ainda dos tempos antigos que não deixavam os alunos abusar :s Isto para dizer que "ainda sou do tempo" que havia respeito pelos professores e se fossemos mal educados havia logo um belo de um castigo! No Externato não havia farda, mas tinhamos que usar bata. Na primeira e segunda classes era uma bata verde clara lisa para as meninas e azul escura lisa para os meninos. Na minha terceira classe mudaram as batas, e passaram a ser às riscas verdes e brancas para as meninas e às riscas azuis e brancas para os meninos. Para a educação física tinhamos que ter um fato de treino próprio do Externato, era azul escuro e azul turquesa com o respectivo emblema. Tive sempre educação religiosa, e nunca me esquecerei da capela onde tanta vez rezei. Ainda hoje ao visitar a capela vem-me aquele cheiro característico da madeira que sentia já na altura da minha infância e faz-me regressar atrás no tempo e lembrar-me das missas ali realizadas onde cada um tinha um livrinho com os cânticos religiosos. No mês de Maio ficavamos sem recreio depois de almoço, pois como é o mês da Nossa Senhora de Fátima iamos todos os dias para a capela rezar o terço. Fiz a minha Primeira Comunhão no pavilhão do Externato. Na altura a Igreja de Santa Maria ainda não estava construída, então as missas da paróquia eram todas no pavilhão. Foi bem linda a minha Primeira Comunhão, o pavilhão estava todo enfeitado, o palco estava muito bonito e a Nossa Senhora da Apresentação estava lindíssima cheia de flores à volta!

Foi no Externato que conheci uma das minhas grandes amigas - a Joana Galvão. Fiz logo amizade com ela na primeira classe e nem sequer eramos da mesma turma, ela era da Natividade. Depois na terceira classe juntaram ambas as turmas e ficámos todos com a Umbelina. A Joana foi a primeira pessoa a convidar-me para uma festa de anos na primária ;) uma vez que fazia anos em Outubro, e como começavamos as aulas em Setembro fiquei muito feliz de ela logo no primeiro ano se ter lembrado de me convidar.

O Externato só tinha até à quarta classe e depois tivemos que mudar de escola. Eu e Joana Galvão fomos para o Ramalhão.

O Ramalhão sempre foi conhecido por ser um dos melhores colégios a nível nacional. É pertencente às Irmãs Dominicanas. Era só de meninas e usava-se farda e tinha também internato. Eu sempre fui externa. Não entrava qualquer uma, antes da inscrição tinha-se que fazer provas de conhecimentos, uma de Matemática e outra de Português e ainda um exame do psicólogo para avaliar o nosso perfil.

Para minha grande tristeza a Joana Galvão não ficou na minha turma, eu fui para o 5º ano B (Inglês) e ela para o A (Francês), mas isso não impediu de continuarmos a ser as melhores amigas!

Adorei entrar para o Colégio e lá me mantive até ao 12º ano. A Joana saiu no final do 10º ano ;(

Lembro-me bem dos preparativos para entrar no Ramalhão. Por isso, é que a única coisa que gosto no primeiro filme do Harry Potter (A Pedra Filosofal) é exactamente o facto de o Harry ter que ir a sítios específicos comprar o material para Hogwarts e o facto de eles usarem farda faz-me sempre lembrar o Ramalhão. Assim foi no Colégio. A farda tinha que ser comprada na Rosicler (Rua Augusta) e mais tarde passou para a Le Tailleur Modern (também na Rua Augusta). A mesma era composta por camisa branca, pullover castanho escuro, saia de pregas aos quadradinhos castanhos e brancos, meias até ao joelho brancas ou castanhas, blaiser castanho escuro, gravata com o mesmo padrão da saia e os sapatos ou eram mocassins castanhos a dizer "Ramalhão" ou sapatos de carneira ambos comprados na Sapataria Mário (Rua de Santa Justa). A Rosicler tinha alfaite e tudo, que nos tirava as medidas para a saia. Era obrigatório o uso do pin do Colégio e mais tarde passou a ser também obrigatório o uso de alfinete na saia com o símbolo do Colégio. Os livros também era todos comprados no Colégio, os meus pais nunca tiveram a preocupação de encomendar os livros às editoras ou às livrarias porque o próprio Colégio tratava disso.

Para quem não sabe o Ramalhão foi palácio, foi onde se refugiou a Rainha Carlota Joaquina depois de fugir do Brasil por não aceitar assinar a Constituição. Por esta razão todos os recantos do Ramalhão são mágicos e cheios de mistério, sem contar ainda com a sua localização - Sintra, o sítio do mistério e secretismo por excelência. O refeitório da Irmã do Rosário (era assim chamado porque era essa irmã que tomava conta dele) tinha nas paredes uns frescos lindos com paisagens tropicais, pois foram mandados pintar pela Rainha para não se esquecer do Brasil. Nunca me esquecerei dos meus recantos favoritos do Ramalhão, o meu cantinho para estudar em silêncio, o cantinho para onde ia com as minhas amigas falar de "coisas nossas"... Os corredores longos com tapeçaria no chão dignos de um filme que retrata os tempos medievais. Quando estava aquele nevoeiro tão característico de Sintra o Colégio ainda mais mágico ficava, por isso, sempre adorei o Colégio no Outono e no Inverno.

A Igreja é linda e nunca me esquecerei também das celebrações de entrega do catecismo. Para mim eram sempre uma festa lol passavamos longos dias a treinar para a celebração sempre com a Irmã Conceição "à frente das tropas", os lugares com que cada uma ficava, os cânticos para a missa, as leituras que cabiam quase sempre a mim por ler bem e falar em voz alta porque não havia microfone. E depois como eram sempre depois do jantar eu já não ia para casa, jantava lá com as internas e depois ia estudar com elas para a sala de estudo até chegar a hora da celebração e aí me encontrar com os meus pais. Era muito giro. Depois ainda havia a capelinha, para onde iamos às vezes rezar quando tinhamos Catequese.

Fiz o meu Crisma no 12º ano na Sé de Lisboa, e a preparação para o mesmo ficou a cargo da Madre Teresa. Foi muito bonito. Lá fui eu com a farda do colégio e com a vela do meu Baptismo.

Passei os melhores momentos da minha vida no Ramalhão.

Gosto muito das irmãs e desculpem-me as restantes, mas a minha irmã querida é a Irmã Amália que foi a minha responsável no 5º e 6º anos. Foi ela que teve muito paciência para mim nos meus primeiros anos do Colégio.

No Ramalhão conheci professores espectaculares com os quais ainda mantenho o contacto e a amizade, já para não falar na minha também querida Madre Teresa. Foram pessoas que para além dos meus pais e avó me educaram e me ensinaram os melhores valores que se podem aprender.

No Ramalhão fiz amizades para a vida, foram muitas, mas há pessoas que se destacaram e com as quais ainda hoje mantenho o contacto permanente: Andreia Vinagre, Helena Morais, Joana Galvão, Margarida Soares, Maria Inês Fernandes e Mariana Amaro.

Mais uma vez agradeço aos meus pais tudo o que têm feito por mim e por me terem proporcionado uma educação digna de uma princesa. Muito obrigada!

E depois admiram-se vocês os dois que eu seja muito ligada a Deus e a Jesus, a culpa é vossa ;) por me terem "metido" em colégios com freiras e onde a Palavra de Deus e o Seu amor é ensinado todos os dias ;)